Por: Ana Ximenes
Infelizmente, nos últimos anos tornou-se corriqueira a difusão de notícias falsas por meio das redes sociais. Facebook, Instagram, Youtube e, sobretudo, o Whatsapp têm sido terreno fértil para a negação, inversão e/ou distorção de fatos.
Nesses primeiros anos de democratização da publicação de conteúdo informativo trazida pela internet, os órgãos de imprensa, tradicionalmente responsáveis pela distribuição de notícias e análises, perderam milhões de assinantes e têm que disputar espaço com quem quer que se disponha a apresentar dados na rede mundial de computadores.
Naturalmente, a democratização do acesso a e da publicação de informações não é um retrocesso social, muito pelo contrário. Contudo, revelou que, sem critérios de checagem por parte do leitor/internauta pode causar danos graves para a sociedade, principalmente num país com lacunas e deficiências educacionais como o Brasil.
Sem compromisso com a verdade factual e com a reunião de elementos de prova que deem sustentação a uma publicação; não raro, intencionalmente negando ou distorcendo fatos, grande parte dos influenciadores, blogueiros, líderes religiosos, políticos, e até mesmo jornalistas sem apego à ética profissional têm difundido mentiras e manipulado pessoas por meio das redes sociais.
Nesse panorama, as casas espíritas e seus grupos de whatsapp não são exceção. Mesmo num meio onde o estudo deve ser o segundo mandamento geral (amai-vos e instruí-vos), não faltam pessoas desavisadas do necessário cuidado ao consumir e repassar uma suposta informação.
Logo, também nós espíritas temos nossa cota de contribuição na divulgação (involuntária, creio) de mentiras nocivas, responsáveis pela propagação e manutenção de doenças, apedrejamento virtual de pessoas, disseminação de preconceitos contra minorias etc .
E aí reside o ponto principal do alerta que se faz necessário levantar. A mentira – sim, fakenews é um nome estrangeiro para uma velha conhecida – poucas vezes é apresentada em larga escala, isto é, dirigida à coletividade em geral, sem um propósito maléfico por detrás.
E, dentro do conjunto de objetivos torpes visado por aqueles que iniciam correntes de difusão de mentiras, v.g., pelo whatsapp, duas maldades chamam especial atenção pela forma sub-reptícia e eficaz com a qual têm ocupado espaço no movimento espírita.
Tais são o ódio, intolerância ou vontade de exclusão dirigida a pessoas LGBTQI+ , assim como a defesa do uso pelo Estado de força letal contra os infratores da lei e pessoas que residem nas mesmas comunidades que eles – fora das hipóteses autorizadas em lei.
Realmente, no primeiro caso, a identidade sexual LGBTQI+ vem associada em postagens com conteúdo falso como se fora algo reprovável – ofensa nem sempre velada a todos os seres humanos nessa condição. Apesar da lei do amor estar exposta claramente desde o Livro dos Espíritos e da máxima adotada pelo Espiritismo de não contrariar a Ciência naquilo que lhe compete definir.[1]
No segundo caso, a infame frase bandido bom é bandido morto tem encontrado eco e versões variadas em perfis de espíritas nas redes sociais, mediante, por exemplo, o aplauso velado ou expresso a notícias acerca da morte de seres humanos envolvidos em delitos, acompanhadas por vezes da desencarnação de crianças, vizinhos e parentes que por destino residem nas mesmas comunidades carentes que os primeiros.
Posto isso, e visando estender a mão àqueles que, num momento de irreflexão, deixam-se levar por essas armadilhas das redes sociais, cumpre recordar que a lei do amor explicitada nas perguntas 886 e 887 do Livro dos Espíritos implica no dever de lutarmos contra o instinto que nos impele a não acolher todos os nossos irmãos da mesma maneira, a não enxergar Jesus em todos os seres humanos e, portanto, negar a alguns a mesma dignidade e direitos de que nos achamos merecedores.
O ódio nem sempre chega ao nosso celular, computador, ou mesmo aos nossos ouvidos com uma face rude e desabrida. Não raro, mascara-se em moralismo, com a hipocrisia denunciada por Jesus (vide Evangelho de Matheus, no capítulo 23). Assim, vigiemos aquilo que nos vêm aos olhos e às mãos como suposta notícia; adotemos o hábito de checar páginas como Agência Lupa, Aos Fatos, Fato ou Fake, Comprova, FactCheck.org e outras semelhantes; não façamos a outros o que não gostaríamos que fizessem a nós mesmos.
Ana Ximenes
Coordenadora do GEEHP
[1] A Resolução n. 1, de 22 de março de 1999, do Conselho Federal de Psicologia, deixou de considerar a homossexualidade como distúrbio psicológico. Em 17 de maio de 1990, a Organização Mundial de Saúde – OMS -, com base em pesquisas científicas, retirou o homossexualismo do rol de doenças mentais.
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