Religiões e Representação Política
Por: Francimar Barboza
Atualmente, um assunto que tem estado presente nas diversas pautas de discussão é a presença de religiosos, sobretudo evangélicos, na vida política nacional.
Longe de considerar que a presença de religiosos na política seja uma postura de intromissão da religião na política, prefiro ver essa presença e atuação de religiosos (padres, pastores e outras lideranças religiosas) como um direito de representatividade que o segmento religioso, a exemplo de outros segmentos representativos e organizados da Sociedade, pode fruir visando ao progresso e melhoria das condições de vida da população brasileira, em um sentido amplo e coletivo, saindo do particular para o geral.
Não é demais advertir que o ingresso de religiosos na política não deve estar necessariamente atrelado a uma perspectiva corporativista e particular de defesa e expansão da sua instituição de fé, objetivando a consecução de um projeto de poder e de infiltração dos interesses de instituições religiosas nos meandros da estrutura do Estado e transformar este último em apêndice da religião, o que pode, inclusive, conduzir a esfera estatal à perigosa condição de instância de imposição de uma concepção fundamentalista religiosa em detrimento da personalidade laica conveniente a um Estado Democrático.
A Europa vivenciou e assistiu, na Idade Média, ao tenebroso cenário opressor em que a autoridade estatal e a autoridade religiosa compartilhavam um projeto teocêntrico de poder, personalizado nas figuras do Rei e do Papa, e que todos conhecemos as funestas consequências do legado de crimes e opressão patrocinados pelo jugo absolutista (do Estado Monárquico) e inquisitorial (da Igreja) e ainda assistimos, hoje, às degradações morais e humanas nas nações que vivem sob a tirania do fundamentalismo islâmico.
O religioso deve participar da política assumindo postura e conduta com feição nitidamente reivindicatória por justiça social, direitos humanos, por democracia, por respeito à diversidade, defesa do meio ambiente. A tarefa do cristão no Brasil não é tornar o Brasil cristão, mas tornar o Brasil um país mais justo.
Tem se consolidado nas últimas décadas, no Brasil, a cultura da banalização da vida: mata-se travestis e transsexuais, executa-se jovens negros, estupra-se e comete-se feminicídeo como se fossem atos naturais da vida cotidiana. Cabe ao político cristão combater essa abominável escalada da violência civil. Há outras razões também relevantes para que o religioso que ingressa na vida política possa pautar suas reivindicações: o Brasil é o país do latifúndio e da desigualdade social, da vigorosa concentração de renda, do desmatamento. Motivações não faltam para atuação em frentes de combate à segregação e à injustiça social.
Por conseguinte, a espiritualidade do indivíduo e dos grupamentos coletivos religiosos não deve estar relacionada à expansão da crença que professa, mas sim em vencer a desigualdade e a opressão para que as pessoas sejam verdadeiramente felizes, que propugne a Religião que funcione como instância inspiradora do indivíduo a adotar um comportamento ético que vise o bem comum. Qualquer iniciativa fora desses propósitos deve ser considerada oportunismo político, quando parte do indivíduo, ou interesse de apropriação do Estado, quando parte de um segmento religioso específico.